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Origem e original nem sempre tem a mesma originalidade

Ocupou lugar de destaque dos principais portais notícias, a condenação da dupla Robin Thicke e Pharrel Williams em US$ 7.4 milhões por plágio na música Blurred Lines. O sucesso ícone de 2013 foi acusado de copiar trechos da música Got to Give it Up de Marvin Gaye. Após o julgamento, a dupla afirmou que vai recorrer da decisão, pois segundo eles Blurred Lines é uma música original criada por ninguém mais que os próprios e, no máximo, o que aconteceu foi uma pequena inspiração no ritmo de Gaye.

Este caso traz à tona novamente o delicado, confuso e tênue limite entre inspiração artística e roubo. Quais as barreiras que dividem os dois? A resposta geraria um debate que talvez jamais acabaria. Em 1920 um famoso crítico literário da Universidade de Oxford aplicou um truque com seus estudantes de graduação. Ele distribuiu diversos poemas misturados, alguns escritos por grandes mestres, outros por perdedores e alguns escritos por ele próprio. O objetivo passado para os alunos era de identificar as obras de arte do lixo restante.

O princípio é básico. Se arte for de fato algo evidente e facilmente identificável, estes alunos seriam capazes de distinguir gênios criativos dos desqualificados sem talento. No entanto, eles não conseguiram. Igualaram sonetos de Shakespeare ao lado de porcarias comerciais sem qualquer talento. Tudo porque a criatividade não é algo tão simples como imaginamos ser. As conexões criadas pelo poder da criatividade mudam nossa forma de experimentar as coisas. E muitas vezes não suportam o teste do tempo. O que Shakespeare fazia, continua sendo feito por muitos outros poetas do sexto escalão. Se você não sabe as datas e os autores, não sabe o que veio antes e não consegue nem precisar quem escreveu o que. Por isso pintores assinam seus quadros.

No caso da música Blurred Lines sabemos que Gaye teve seu sucesso 3 décadas antes. Mas até que ponto a forma como se pensa e se experimenta a música hoje, teve influência nas batidas de Gaye e outros tantos? Quantos compositores escrevem suas músicas em um caldo de experiências que condensam boa parte da história da música? Até onde influências são plágios ou inspirações? Se olharmos no mundo da publicidade encontraremos outros tantos exemplos. Campanhas que despertam aquele déjà vu. Certa vez, um famoso publicitário disse que o objetivo da publicidade não deveria ser comunicar, mas aterrorizar os redatores da concorrência.

De tempos em tempos isso acontece, a publicidade aterroriza e provoca mudanças definitivas. Acaba moldando a indústria inteira, alterando a forma como olhamos, falamos a respeito, construímos e entendemos o mundo. O grande e verdadeiro artista não imita nem deriva de algo existente. Ele radicaliza e assim aterroriza. Cria o novo e este vira aos poucos o velho padrão com o tempo. Como um dia fez Shakespeare e Gaye. Criando uma onda gigante onde outros irão surfar por longos anos. Você pode até se servir de onde tudo começou, criar, reler e reinventar, porém isso não o torna um revolucionário. As palavras origem e original podem ter até a mesma raiz, mas nem sempre tem a mesma originalidade.

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