Ano passado Ken Loach, consagrado cineasta britânico, apresentou ao mundo em Cannes seu filme Looking for Eric (À Procura de Eric). Nele conta a estória de um loser apaixonado por futebol e pelo Manchester United, mas que no resto de sua vida contabiliza apenas fracassos. Aí entra na sua vida, através de visões e divertidos diálogos, seu ídolo Eric Cantona. O polêmico ex-jogador do United, famoso por suas frases enigmáticas e gols fantásticos, tem o papel de ajudar seu fã, tentando fazê-lo renascer das cinzas a fim de encontrar um rumo na vida. Inicialmente existe um clima de idolatria mixada com desconfiança, afinal o que um rico, bem-sucedido e frequentador do jet-set internacional pode fazer por um carteiro da lower class. Em certo momento, Cantona dispara: “Você acha que os meus amigos são melhores que os seus?”
No ambiente corporativo, invariavelmente somos colocados de frente com essa dúvida: existem amigos ou apenas colegas de trabalho? Aqueles que no primeiro momento em que tiverem que escolher entre nós e o dinheiro do final do mês, ficarão sem hesitar com a segunda opção. O comportamento desses profissionais pode ser facilmente identificado nas empresas, geralmente são próximos do seu líder, às vezes tão colados que ao tirar uma foto não conseguimos enxergar os dois de forma separada. Não têm nenhuma crítica ao processo de gestão e às decisões tomadas, e se as têm, guardam no silêncio de sua servidão. Quais são suas contribuições para a empresa além de executar suas tarefas sem incomodar? Nenhuma. Anulam o debate, empobrecem a inovação e tornam o crescimento medíocre.
Em uma das passagens mais importantes de Looking for Eric, o carteiro pergunta para Cantona qual foi o seu grande momento. E para sua surpresa, o evento destacado não foi um dos tantos belos e decisivos gols marcados pelos red devils. Foi um passe, revela Cantona. O homem conhecido por decidir, coloca no lugar mais alto de sua carreira, uma jogada na qual serviu a um colega. E finaliza, se você não acredita em seus companheiros, você está perdido. Isso serve, como um passe genial de Cantona, para as empresas. Se temos pessoas no time cujo comportamento acima identificado, nos leva a um nível de confiança baixo, estamos perdidos mesmo. Por mais talento individual que tenhamos, as poucas vitórias que conseguirmos serão amassadas pela maioria esmagadora de derrotas.
Vamos ficar atentos à dica do craque francês e chutá-los para fora da equipe. Mas sem ressentimentos, pois como o “trompetista” provoca: “The noblest revenge is to forgive.”
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