Em pesquisa recente sobre as melhores empresas para trabalhar na opinião dos jovens, constatei uma dura contradição. Algumas empresas elencadas na lista em seus primeiros postos eram sabidamente orientadas fortemente para desempenho, com cultura de metas agressivas e cobrança incessante sobre a equipe. No entanto, no mesmo levantamento, os jovens profissionais responderam que o principal aspecto que valorizam na escolha da organização ideal para trabalhar são ambiente agradável e qualidade de vida. Algo está em desacordo, os profissionais pesquisados não tem o mínimo conhecimento do estilo gerencial das empresas citadas ou suas prioridades foram mascaradas por tornar público algo mais nobre do que apenas salários e bônus.
Em uma das conclusões tiradas por Jim Collins sobre as empresas bem-sucedidas está presente o fato que antes de direcionar o barco para o lugar que queremos chegar, é preciso certificar-se que as pessoas certas estão dentro dele (e as erradas fora). Ou seja, a formação da equipe e seu alinhamento precede o próprio direcionamento da organização. Pouco irá adiantar termos excelentes e nobres desafios se as pessoas que serão responsáveis por eles não estarem preparadas ou pior, não acreditarem neles, pois suas concepções são opostas. Então existe uma forte dicotomia presente nos jovens profissionais, entre as empresas que admiram e gostariam de trabalhar com o que acreditam e buscam para suas vida.
E resultado justamente é a batida mais forte do mundo corporativo. O culto das metas tornou-se algo fundamental para o sucesso de implementações estratégicas. Para que aquele belo, trabalhoso e elaborado planejamento estratégico não fique obsoleto na segunda-feira seguinte ao seu término. Como em esportes olímpicos, onde recordes de tempo, distância e altura são quebrados em sequência jamais vista, a dosagem das metas empresariais é ajustada para garantir pressão máxima. Em uma passagem do filme Goodfellas (Os Bons Companheiros), um dos mafiosos utiliza um método de cobrança típico. Não interessa o que aconteceu, seus negócios andam mal, sua casa pegou fogo, um raio te atingiu, azar o seu (o termo é mais pesado que este), me dê o dinheiro. Metas foram feitas para serem perseguidas e alcançadas, muitas vezes a qualquer custo.
Uma antiga, mas engraçada história, conta que dois velhos conhecidos conversavam:
“- É, meu irmão acho que pirou. Ele pensa que é uma galinha.
– Uma galinha??? Nossa, mas por que vocês não levam ele para um psiquiatra?
– É… só que nós precisamos dos ovos.”
O ambiente extremo está mapeado, mas ainda precisa-se dos resultados, então sigamos em frente. Em recente entrevista, o professor de estratégia Henry Mintzberg foi questionado a respeito da cultura de metas agressivas. Em sua resposta deixou claro que de forma alguma avaliza isso e que pensa que as organizações devem ser voltadas para outros objetivos. Quando se fala em indicadores e controles uma empresa em especial vem a sua mente: Enron. Neste caso, o siga em frente significou o abismo.
Indicadores, metas, prazos e número provocativos são importantes, pois ajudam a quantificar sonhos e repartir o papel de cada um na missão de alcançá-los. Igualmente fundamental torna-se também a correta calibragem dos mesmos, o ajuste em função de mudanças de cenário e a forma de repassar e gerenciar a equipe durante todo processo. Os aspectos quantitativos precisam estar equilibrados com os qualitativos. Queremos e continuaremos precisando dos ovos, pois assim sobrevivem e prosperam as organizações com fins lucrativos. E da mesma maneira precisamos de pessoas saudáveis, felizes e motivadas dentro das empresas e fora delas. E bons negócios!
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