O sujeito nasceu em uma família esfarelada. Desde cedo sofreu abusos do padrasto e apanhava severamente de qualquer moleque que passasse pela sua rua. Na escola ia razoavelmente bem nas provas, mas acabava no gol na hora do recreio e tomava frangos que fariam Maizena corar. Nem é preciso dizer que não pegava ninguém. E assim virou um adulto, pouco respeitado e com uma carreira medíocre. Emprego e salário eram reflexos de suas escolhas e claro, da (in)capacidade demonstrada. Sapatos caramelo de bico quadrado, estava fadado ao insucesso, como muitos. Uma vida besta, daquelas que o sujeito acende um cigarro atrás do outro para apagar as memórias infelizes. Poderia estar roubando ou matando, mas ele só pede um minutinho da sua atenção. Ele quer te vender Herbalife.
Você pode estar se perguntando, mas qual a relação disto tudo? Afora o fato de fugirmos de vendedores de Herbalife (quem já teve um amigo nessa, sabe do que falo), em geral não sabemos muito bem o que se passa nos bastidores dessa seit…digo negócio. A marca significa muito mais do que perder peso como aqueles adesivos onipresentes gritam. Herbalife é a chance de redenção para os perdidos. Talvez a última chance de ser alguém na vida. Mais do que dinheiro ganho entupindo gordinhas frustradas com shakes milagrosos, está a possibilidade de ser visto como um cara bem sucedido. Não é à toa que os carros estampam o verdadeiro orgulho de pertencer ao time. Os adesivos devem ser grandes, suficientes para serem vistos a metros de distância. E os carros são a forma de externalizar o sucesso e obter o reconhecimento.
E voltamos para o título do post, já que até agora ele não fechava com o assunto. Você já foi pesquisado sobre porque compra determinado produto? Ou escolhe a marca de sua preferência em detrimento das demais? Engraçado, mas humano, as justificativas geralmente recaem para alguma característica funcional que mostre seu critério analítico para escolher. A sua suposta inteligência para optar pelo melhor. Desde as cansadas abóboras da estrada do mar, eternizadas por Gustavo Ermel, até as compras elaboradas, como o próximo automóvel. Essa regra de elaborar um rico detalhamento de bula de remédio serve unicamente para não respondermos o que sentimos.
Uma frase clássica do marketing afirma que o consumidor diz o que pensa, mas faz o que sente. Somos movidos pelos sentimentos mais profundos (e às vezes rasos), para resolver frustrações e problemas por meio de escolhas que preencham (ou ajudem a preencher) esses vazios. Jovens querem carros esportivos não pelo melhor coeficiente aerodinâmico, mas porque vão pegar mais mulheres. Da mesma forma que adolescentes não compram Axe por causa dos seus deliciosos aromas. Mas porque querem pegar mais mulheres também. São ferramentas de conquista, assim como os adesivos da Herbalife nos Golfs representam que um jacu conseguiu alguma coisa na vida.
Não sejamos inteligentes, mas humanos. As marcas percebem isso é brincam com nossas fragilidades estendendo a mão para não ficarmos pelo caminho. Os carros devem ser confiáveis também (assim como as mulheres fiéis). Mas se o jogo se resumisse a isso, haveria menos design e casamentos. Ah, e os vendedores de Herbalife continuariam os fracassados de sempre, talvez vendendo aquelas abóboras de beira de estrada.
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