Da sua cozinha saem a todo o momento pastéis repletos com o vento de desejos. Sanduíches quentes com a última tendência como recheio. Todos eles quase sempre desnecessários. Mas sua falta poderia tornar a vida frustrante para seus clientes. Debruçados sobre o balcão precisam de algo novo para justificar a existência, o trabalho e as carteiras repletas de cédulas.
A Lancheria Esperança vende inutilidades para aqueles que pouco precisam. Mas acham que falta tudo. Pensam assim, pois participam de uma corrida sem fim. Sem vencedores. Uma eterna busca por um ideal refletido em telas de LCD, aplicativos de smartphones, vitrines reluzentes. Como robôs, diariamente caminham até a estreita porta para se abastecer de mais produtos no velho espaço de mercado.
Os meios viraram os fins. Não nos alimentamos mais para poder saudavelmente viver e assim buscarmos a felicidade. Comemos compulsivamente produtos para preencher o vazio em nossas barrigas. A falta de sentido em que somos compelidos a sentir. E marcas e mais marcas prometem o conforto que supostamente precisaríamos. Sentimos emoção em uma garrafa de vidro cheia com líquido escuro, excitação com um novo dispositivo eletrônico.
O estilo agitado das onipresentes personalidades-perfeitas, do mundo idealizado de coisas. De projetos de relacionamento, de redes sociais e estratégias de envolvimento. Tudo para colocar o vazio e com a outra mão apresentar o complemento sob medida. Um mundo mecânico de problema-ação-solução.
A Lancheria Esperança está cheia. Todos os dias. Todas as noites. Barrigas e almas vazias a espera da ração diária de falso sentido. Mas que se tornou para estas pessoas a única forma de completar e seguir em frente. Para no outro dia voltar. Um vai-e-vem de pessoas. Para nada encontrar. Talvez, no fundo, bem lá no fundo, de um pastel de vento, esteja a tal esperança. Perdida e esquecida.
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