O interessante canal History traz na série chamada Universo as mais recentes descobertas da física teórica. Para quem não é iniciado no tema, a física teórica busca através de sofisticados modelos matemáticos e conceitos prever de modo racional fenômenos físicos. Alguns desses fenômenos jamais foram observados, ou seja, existem apenas em teoria. Entre essas situações está a existência de universos paralelos convivendo simultaneamente. Nesse modelo os universos seriam como bolhas de sabão flutuando no espaço. Dentro da teoria, poderíamos em algum desses universos ainda assistir Elvis fazendo shows em Vegas, ou até mesmo você estaria descansando naquela piscina durante suas férias. Mas como chegar lá? Há também outra teoria: buracos de minhoca. Seria uma espécie de atalho pelo qual você viajaria no espaço e chegaria mais rapidamente a estes lugares. Incrível você pode estar pensando (outros pensaram em férias eternas).
Tudo isso é fisicamente (e matematicamente) possível. Em suma, racionalmente existe. Em um dos capítulos dessa série foram apresentadas 10 maneiras de aniquilar a Terra. Uma mais fantástica do que a outra. No nível mais bizarro, bastaria trazer poucos gramas de algo chamado matéria estranha e todas as coisas do planeta, prédios, carros, muros e pessoas tornar-se-iam estranhas, perdendo sua forma original, virando uma espécie de imenso mingau. Essa matéria estranha é formada de quarks (partículas subatômicas) e teve sua existência provada também. Falamos de eventos que geram incredulidade aos mais esclarecidos, mas fazem parte da vanguarda de uma ciência exata. O que poderíamos dizer da administração, cuja carga de exatidão é extremamente discutível? Há matemática, porém há pessoas. Há razão, no entanto muito sentimento.
Dos absurdos, espanta a quantidade de “métodos” e “certezas” apresentados na gestão, seja na busca por respostas importantes ou na necessidade de encaixotar modelos. Centenas de livros e publicações, palestras e eventos, consultorias e experts, todos tentando trazer as respostas certas para as perguntas certas. Mas será que elas existem? Assim definitivas? Desconfie de todos que afirmam ter encontrado algo absoluto. Você não é o centro do universo. Imagine que enquanto escuta uma música em alguma estação de rádio, centenas de outras emissoras continuam executando outras canções sem quem as ouça. Assim como questiona a poesia, o que o espelho exibe quando não estamos na frente dele? Até mesmo a lei das probabilidades joga a favor (e contra). No livro As aventuras de um roteirista de Hollywood, William Goldman cita o executivo de estúdios David Picker que disse: “se eu tivesse dito sim a todos os projetos que recusei e não a todos os que aceitei, a coisa teria funcionado mais ou menos da mesma maneira.”
A agradável imagem rica e complexa de um ambiente empresarial resumido a uma fórmula parece tentador, mas pouco provável. Mais crível é quem proponha isso estar com uma quantidade considerável de matéria estranha em mãos para aniquilar sua empresa, destruindo marcas, pessoas, processos e relacionamentos. Como naquele navio que tem Steven Seagal como cozinheiro, você fique certo que pouca coisa estará inteira no final. Assim pode-se sentir quando algum gestor der sinais que sabe tudo e tem todas as respostas definitivas. Mas para arrefecer a preocupação, as palavras de Carlos Pena Filho podem ajudar:
“Lembra-te que afinal te resta a vida
Com tudo que é insolvente e transitório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o provisório”
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