Alguns anos atrás um norueguês me fez uma pergunta, no mínimo curiosa. Queria saber de mim, um brasileiro (talvez o único que tenha visto na vida), quantos morriam no país atingidos por cocos que caem de árvores. Achei que fosse brincadeira, mas sua sisudez nórdica indicava que não havia piada na questão. Era sério. E pior do que isso. Ele era funcionário do Ministério das Relações Exteriores da Noruega. Ou seja, o Brasil era um ilustre desconhecido, perdido entre estereótipos exóticos. Tal qual pensamos que o Oriente Médio é um lugar de camelos, desertos e homens bomba.
Então surge uma Copa do Mundo no caminho. A chance dourada para mostrar a marca Brazil. Sem abrir a discussão da inadequação da candidatura a sede e das inúmeras prioridades mais importantes para a nação, posta a oportunidade na mesa, aproveite. Foram 7 anos, da escolha ao início do torneio. Muito tempo, porém pequeno para incompetência de gestão do setor público. Assim, várias obras, ideias e necessidades foram ficando pela estrada inacabada. Para preencher os espaços vazios na mente dos estrangeiros era preciso trazer algo novo. Diferente dos cansados estereótipos de praia, samba, bunda e futebol. Algo surpreendente, como a palavra vazia que assina a identidade visual da marca Brazil nas campanhas da Embratur.
Muito se falou que a indústria do entretenimento forma as imagens das marcas nacionais. Crocodilo Dundee impulsionou a imagem positiva da Austrália, assim como O Albergue emprestou uma aura sinistra a Bratislava. O cinema tratou de retratar o Brasil como um lugar diferente e distante da realidade dos países desenvolvidos. Como mostra o documentário Olhar Estrangeiro (trailer abaixo), o Brasil sempre mereceu uma visão limitada de produtores e diretores. Mais de 40 filmes mostram os bandidos fugindo para cá. Talvez porque aqui sejamos permissivos com crimes, vide os bandidos que habitam cargos públicos em todas esferas. O filme Turistas mostrou um Brasil perigoso e traiçoeiro. Quem sabe foi disso que lembrou o ex-zagueiro da seleção norte-americana Alex Lalas ao dizer que estava no Rio e seus órgãos ainda não tinham sido roubados.
Voltando a Copa, todo esforço em trazê-la e minimamente viabiliza-la com apenas uma fração das obras e com um orçamento superfaturado parece em parte perdido pois faltou o conteúdo. Como alguém comentou, compramos a mídia de veiculação global, mas esquecemos de fazer a campanha publicitária. Não temos nada de novo para mostrar, apenas mais do mesmo, talvez reforçando mais ainda os velhos estereótipos de bananas na cabeça e cocos caindo de árvores. A mídia agora está aí durante 30 dias. E o que vamos mostrar? Um reality show do país, com surpresas e problemas a cada esquina, com improviso típico do pior e do melhor da nação. Muito menos do que precisamos. Nosso branding continuará no nível do subdesenvolvimento. Perde a marca Brazil e todas as marcas que a ela estão conectadas. E mais cocos cairão nas nossas cabeças cheias de bananas.
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