O ano de 1988 foi especial para um jovem ator belga. Nesse período conseguiu protagonizar uma produção norte-americana de orçamento relativamente baixo, mas que faturou mais de US$ 65 milhões. O ator em questão é Jean-Claude Van Damme, o filme, O Grande Dragão Branco. O que pouca gente sabe, a história contada foi supostamente baseada em fatos reais ocorridos com um tal de Frank Dux. Este canadense, afirmava que além de ter criado um estilo próprio de luta marcial, treinou com um ninja chamado Senzo Tanaka e teria participado e vencido um torneio secreto chamado Kumite em 1975. Uma história brilhante e realmente cinematográfica como o filme depois retratou em uma hora e meia. Fantástica e empolgante demais, senão fosse pelo fato que ninguém mais conseguiu sustentar os fatos descritos como reais, exceto o próprio Frank Dux.
Saltamos da década de 80 para 30 anos à frente. A visibilidade de marcas nunca foi tão alta. E aqui não falamos somente de produtos, falamos também de lugares, religiões e personalidades (de estrelas pop a profissionais de inúmeros segmentos). Cada um levando sua história à frente. Na tentativa de seduzir, envolver e encantar o público geralmente é preciso desenvolver temas contemporâneos e sobre os quais ninguém tem dúvida que sejam relevantes. Nova economia, direitos sociais, políticas de igualdade, sustentabilidade. Branding para engajar. Histórias surpreendentes como aquela de Frank Dux, mas nem sempre…
Não aponte só o caminho! Caminhe nele também.
Marcas são aquilo que fazem (não somente aquilo que dizem). Se o objetivo é alcançar posição de liderança, mais importante ainda essa afirmativa. Como diz Alan Deutschman, Walk the Walk, seu livro que propõe ser a regra nr. 1 para líderes reais. Não adianta o restaurante propôr um discurso de ética alimentar se não repassa os 10% da taxa de serviços para sua equipe. De nada serve a marca de moda lançar coleção sustentável se o seu modelo de negócios está baseado em corrupção. Ou o publicitário escrever artigos convidando os empresários a praticarem a pluralidade de ideias junto aos seus times se o mesmo não dá bom dia para os seus próprios. A parte fácil de tudo isso é apenas “comprar” uma causa e “vendê-la” em cápsulas, discursos, posicionamentos e manifestos. A parte difícil (mas verdadeira) é viver dentro dessas práticas.
Os feitos incríveis de Frank Dux, suas medalhas de honra, a vitória no torneio secreto, o mentor e mestre ninja, o recorde de lutas e vitórias, as missões na CIA, tudo aponta para um grande enredo, porém totalmente inventado pela sua mente fantasiosa. Bem embalado, vendido e comprado por muitos. Até que depoimentos contrários fizeram a farsa ruir. Não muito diferente, o mesmo roteiro acontece com quem cria somente uma casca bonita em torno da marca. O branding como mero verniz. Belas histórias compradas por muitos. No entanto, inconsistentes. E mais cedo ou mais tarde, desmentidas. Nem que sejam por crises de identidade.
Melhor a verdade do que a nobreza
Na ausência de grandes líderes com causas relevantes surgem as marcas para ocupar o vazio. Aonde os políticos, a religião e o poder público falharam, empresas privadas levantam bandeiras nobres para tracionarem seus negócios. As marcas se tornaram as novas comunidades, reunindo pessoas ao redor de suas crenças. Convidando consumidores para agirem pelo bem, claro, depois de passarem no checkout da loja. Um estudo global da Edelman com 8.000 pessoas em 8 mercados mostrou que 2/3 tomam decisões de compra baseadas nos temas políticos ou sociais das marcas e 53% acreditam que as marcas podem fazer mais ações sociais do que governos. Números que encorajam mais pessoas, empresas e organizações a entrarem nessa roda. Muitas vezes passando por propósitos distantes da realidade, inverossímeis como as estórias de Frank Dux. Não se deixe levar pela onda. Encontre a sua verdade, aquela que de fato guia e é retratada nos seus passos bem particulares. É muito mais honesto.
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