De empresas bem-sucedidas até as que buscam aquela bala de prata salvadora, a inovação parece ser o caminho mais percorrido nos últimos tempos. Ou mais buscado, porque algumas sequer chegam perto dele. Geralmente como forma de estimular esse ambiente inovador internamente, gestores citam casos de negócios reconhecidamente símbolos de inovação. Nessa lista, o Google aparece como exemplo a ser seguido. Já ouvi de um dono de empresa projetando mudanças no layout de seu escritório para criar uma atmosfera propícia às ideias inovadoras. Construiria um ambiente zen, colocaria sofás e pufes e uma decoração convidativa. Com certeza havia recebido aquele e-mail hype com diversas fotos internas do Google mostrando funcionários em um ambiente divertido.
A pergunta que fica: será que basta um escritório moderninho e meio zen para ideias inovadoras brotarem de cada mesa e cabeça? Claro que não. Recentemente William Duggan, professor da Columbia Business School, escreveu um relevante artigo que explora essas questões e procura superar mitos criados ao longo do tempo. Entre eles o de que devemos desligar o hemisfério esquerdo do cérebro (responsável pela parte analítica) para então ligar o lado direito (a parte criativa cerebral). O modelo apresentado em 1981 por Roger Sperry, vencedor do Prêmio Nobel, com dois hemisférios cerebrais serviu de balizador para vários exercícios corporativos. Inclusive aquele adotado pelas organizações para estimular a criação e geração de ideias: o brainstorming. Esse procedimento serve desde elencar estratégias competitivas possíveis de serem utilizadas até a escolha de nomes para marcas.
Mas o modelo de Sperry já foi superado em 1998 com o trabalho de Brenda Milner, Larry Squire e Erica Kandel. O conceito de memória inteligente, no qual análise e intuição trabalham juntos passou a representar uma forma mais atualizada de conceber o funcionamento do cérebro humano. Sem hemisférios. Em 2003, outros dois pesquisadores, Barry Gordon e Lisa Berger, propuseram um modelo no qual o cérebro desde o nosso nascimento toma informações, divide e as organiza. Quando algo novo chega, o cérebro faz uma busca para ver se casa com algo já conhecido. Se acha algo, a informação é tirada da gaveta e combinada com a nova. A etapa de dividir e armazenar é a análise, a de procurar e combinar é a intuição. Ambas são necessárias e presentes para qualquer pensamento ou ideia.
Quando você executar um planejamento estratégico ou um projeto de branding pense que precisará utilizar muito mais que um ambiente com luzes adequadas, sons relaxantes, incensos e móveis que inspirem as pessoas. É preciso método. Algo que aproveite as melhores qualidades de nosso cérebro, fugindo dos infames brainstormings. Um modelo interessante pode ser o utilizado pela General Electric. Uma matriz bem simples que busca encontrar conjuntamente peças de um quebra-cabeças. Parte-se do entendimento da situação atual e segue-se pela análise: listar uma série de ações para ser bem sucedido nesta situação. Então questione se alguém em algum lugar já conseguiu avançar em alguma peça desse quebra-cabeças. Explore fontes possíveis para as respostas (empresas, pessoas, instituições) e coloque a equipe para buscá-las. A medida que chegam as informações; as questões, fontes e ações podem ser alteradas e reorganizadas. O processo é encerrado quando uma combinação faz sentido para o grupo.
Quantos planejamentos já foram perdidos, pois partiram de uma premissa errônea? De nada adianta ter uma forma bem estruturada de implementar a estratégia com o Balanced Scorecard, se os caminhos definidos não foram suficiente explorados. Henry Mintzberg já abordou bastante esse questão sobre os insucessos do planejamento estratégico, em sua visão, incongruentes pelo conflito entre análise (planejamento) e síntese (estratégia). Talvez tenhamos uma oportunidade de superar isto. Reunindo o melhor do conhecimento coletivo e do potencial cerebral de cada um direcionado por um método. Da próxima vez que a inovação for pauta, seja em Estratégia ou Branding pense nisso. E execute diferente. Se convidarem para uma sessão de brainstorming, já sabe por onde fugir. Invista menos na arquitetura e mais nas pessoas. Voltando àquele empresário do início do texto, fez sim um belo escritório, mas ficou quase vazio, pois perdeu grande parte da equipe.
No Comments