De tempos em tempos somos atingidos por declarações que parecem doutrinas da verdade absoluta. Em administração é particularmente curioso, pois a verdade de ontem é a mentira de hoje. E com chances de ressuscitar como verdade amanhã. Assim já vimos as mais diversas “ondas” de mantras para orientar os rebanhos de gestores ao redor do globo. Quem já não ouviu frases feitas como “globalize ou morra”, “o caixa é o mais importante”, “corte custos ou feche”, entre tantos. Na esteira de cada fase, livros e autores da vez são cultuados como os deuses do momento. O império das meias-verdades é o império das meias-mentiras.
A orientação das grandes corporações, sobretudo norte-americanas, durante os dinâmicos anos 80 era o resultado rápido, potencializando alavancagem de capital através de bolsa de valores. O caixa era a bola da vez. E para isso você pode realizar inúmeras artimanhas para elevá-lo e tornar o EBITDA (o seu indicador mestre) muito positivo. Para fazer o presente belo e atraente, você pode hipotecar seu futuro. Reduzir investimentos, seja na sua equipe, marca, pesquisa e desenvolvimento. Desarmando aos poucos ou rapidamente sua proposta de valor ao cliente. No início dos anos 90 Robert Kaplan desconstruiu a falácia financeira e de seus indicadores chave propondo através do Balanced Scorecard que estes eram mera consequência de processos e entrega de valor ao mercado.
É curioso como ondas velhas voltem, sobretudo quando já mostraram que são enganosas. Vejam que algumas empresas ainda colocam entre seus objetivos e valores compartilhados a surrada frase de “maximizar o lucro dos acionistas”. Isso é óbvio em qualquer organização com fim lucrativo. Mas novamente, será apenas resultado de uma preparação correta das pessoas, do ajustes dos processos que geram valor do ponto de vista de seus clientes e que façam que estes escolham sua marca e não as dos concorrentes seus. Qual o grau de mobilização que frases como “torne o lucro o maior possível” ou “tudo é caixa” podem ter em uma equipe que está frente à frente no atendimento de seus clientes? Nada mais falso quanto aquela empresa que coloca em seus princípios “o cliente em primeiro lugar”, no entanto ao chegar no estacionamento da mesma descobre-se que as vagas menos nobres (quando existem) são para os clientes.
Questione tudo e sempre procure olhar com a ótica do seu negócio. Assim como receitas médicas trocadas podem ter efeitos desastrosos, fórmulas prontas não significam sucesso em escala para todos. O seu caminho é único e seu contexto particular. Bons negócios e cuidado com os pastores que querem te transformar em rebanho.
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