As empresas reservam alguns momentos dedicados com a equipe de alto escalão para elaborar seu planejamento estratégico. Geralmente esse fórum é ativado somente no segundo semestre do ano, normalmente para o seu final, quando o próximo exercício se avizinha e são necessários os planos de venda, compras e o orçamento anual. Dentro dessa esteira, o ambiente de planejamento desperta diversas questões e fatos envolventes do ambiente competitivo da empresa, forçando a equipe a pensar ações, direcionamentos e atitudes estratégicas. Isso eleva o grau de atenção e normalmente amplifica o envolvimento de todos com o negócio, culminando com pessoas bastante motivadas em torno de objetivos comuns. Finalizado o período de debates e construção, muitas empresas consideram finalizado o planejamento, quando na verdade este apenas começou e entra na etapa mais crítica: a implementação da estratégia.
Conversando com um controller de uma empresa média ouvi exatamente as mesmas queixas que se repetem em outras organizações. Todas aquelas conclusões e objetivos do planejamento são perdidos pela sequência, dessa forma desacreditando todo processo. “Le temps détruit tout” (O tempo destrói tudo) já afirmava o cineasta franco-argentino Gaspar Noé. A entropia é o código do Universo, caminhamos sempre para uma maior desorganização das coisas. E tudo que é deixado ao tempo, tende a ser destruído de fato. Nos ambientes corporativos a competição da atenção força ainda que os gestores abandonem as atividades importantes para dedicarem-se às atividades urgentes. Assim, o planejamento fica adormecido até ser despertado novamente no próximo ciclo anual, no qual, alguns mais atentos, percebem que muitos daqueles novos objetivos criados já haviam sido elaborados 12 meses atrás, mas jamais atingidos.
Em alguns casos a responsabilidade por fazer acontecer o planejamento fica nas mãos de uma pessoa ou de um departamento específico, cuja missão não é nada fácil. Pensando sobre essas idas e vindas estratégicas relembro uma estória esquisita. Diz ela que dois amigos se encontram na rua e um deles assustado afirma:
“- Acabei de ver o que parecia ser seu irmão em uma esquina lá do centro, ele estava gesticulando e gritando ao ar.
– Sim era meu irmão, está lá para espantar os gorilas.
– Gorilas?!? Mas ele ficou louco?
– É o que parece. Mas que eles não apareceram, não apareceram mesmo.”
Implementar já foi considerado o cemitério dos estrategistas. A árdua tarefa na qual muitos sucumbiram. Basta olhar alguns cases famosos nos quais as empresas falharam redondamente no momento de realizar as ações. O que faltou? Diversos fatores podem ser explicados como causadores, mas um invariavelmente estará presente: energia constante. Ela irá garantir um senso de alerta e prontidão estratégica permeando a organização. Para isso deverão estar disponíveis sistemas, controles e rotinas nos quais a estratégia permaneça na pauta da equipe, relembrando das missões que devem ser cumpridas. O planejamento não é atividade estanque, mas contínua. A estratégia não é peça morta, ela deva estar sempre sendo aplicada, revista, reformada e atualizada. E novamente a energia constante é vital para que haja evolução e relevância na estratégia para que seja posta em prática.
A gestão e implementação do planejamento é tarefa de todos, diariamente. Analogia muito utilizada no meio empresarial é o da orquestra, na qual o gestor comanda uma série de pessoas em um espetáculo perfeito. Gosto mais da versão de Mintzberg, aonde o maestro tem que lidar com os ensaios, cada músico toca uma parte diferente, há dificuldades na coordenação e o concerto tem que ser parado por diversas vezes. A um espectador externo aquilo pode parecer uma grande confusão, semelhante ao cidadão espantador de gorilas. Mas é assim que funciona a realidade e devemos saber conviver com isso. Reconhecendo as limitações, para não desistir. Revitalizando a energia, para executar. Bons negócios!
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