Um carro fantástico, mas com um piloto medíocre. Uma empresa com enorme potencial de sucesso, no entanto com gente incompetente a sua frente. Histórias assim são comuns e temos capacidade de lembrar de diversos exemplos sem forçar demais nossa memória. E agora o que dizer de uma cidade com belezas diversas perfeitas para o turismo, porém com incapacidade de explorá-las de forma racional? Em outros posts do blog já tratamos de posicionamento de lugares. Uma forma interessante de comparar exemplos de sucesso para marcas, produtos e serviços. Neste caso, olhamos pelo outro lado, do fracasso em aproveitar recursos naturais de maneira inteligente. O estado é Santa Catarina, a cidade é Florianópolis e a vítima o turista.
Dos mais de 8 mil quilômetros de litoral brasileiro, a faixa que passa por Santa Catarina é uma das mais privilegiadas. Belas enseadas, águas limpas, pedras, morros e ilhas formam um contraste de rara beleza. Destino adequado para pessoas de diversos estados passarem suas férias e aproveitarem as diversas praias. Entre as mais procuradas estão aquelas concentradas no litoral norte da capital Florianópolis. Até aqui tudo certo, um destino excepcional com todas as condições de agradar seus clientes e atender as expectativas na busca de um lugar paradisíaco. Por aqui começam os problemas.
Tal qual aquela empresa que percebe que é monopolista, ou seja, tem exclusividade sobre um produto que todo mundo quer ou precisa, os empreendedores e políticos de Florianópolis atuam. Em toda execução bem elaborada de turismo, o turista, como elemento central, deve se sentir tão bem quanto em casa. Na ilha catarinense é diferente, os locais fazem questão de mostrar que são os donos do pedaço e para você poder aproveitar ele momentaneamente vai ter que pagar uma “taxa de utilização”. Essa “taxa” surge de diferentes formas, não apenas financeira, no sobre preço cobrado de forma abusiva desde o posto de gasolina até o supermercado, mas também em arrogância no atendimento em restaurantes e demais serviços de praia, inclusive em um simples aluguel de caiaques. A exploração deve ser máxima para compensar os 9 meses aonde quem sustenta a festa não está lá. Uma espécie de cigarra do turismo.
Um comportamento de desprezo com o turista baseado na fé que ele vai voltar já que as belezas naturais continuarão ali por diversos anos. O desgaste e as dificuldades impostas aumentam a cada temporada o que leva a pergunta de quanto tempo será possível sustentar uma situação insustentável? A cada verão falta água, pois o abastecimento não pensa nem comporta a maior quantidade de pessoas. Falta energia elétrica pelo mesmo motivo. O serviço de recolhimento de lixo é precário, deixando as tais belezas naturais muito menos belas. O trânsito torna-se caótico e o policiamento é deficiente permitindo o aumento da criminalidade. Apenas como comparação, nessa temporada 2010/2011 mais 100 cruzeiros desembarcam na costa entre Punta e Montevideo. Sabem quantos em Florianópolis? Nenhum. Por total incapacidade de infra-estrutura para receber os turistas.
Assim como nos negócios, as oportunidades para destinos turísticos não ficam permanentemente abertas. Cidades que foram referência em outras épocas, perderam espaço quando não souberam lidar com seus problemas. Dois exemplos bastante visíveis são Acapulco no México e o Rio de Janeiro. Não afirmo que o mesmo possa acontecer com Florianópolis, apesar dos esforços locais em destruir a reputação de sua cidade. O fato de ter perdido a seleção de cidades sede para a Copa de 2014 representou apenas uma face desse despreparo, o que irá gerar um ciclo de investimentos ainda menores em obras de infra-estrutura necessária, como exemplo vias de acesso, esgoto e um aeroporto condizente. Até mesmo Jurerê Internacional, símbolo de status no verão nacional, adquire um ar um pouco over. Resta acompanhar como turistas clientes quais serão os próximos passos desse produto chamado Florianópolis que tem cada vez mais dificuldade de fazer a entrega de sua promessa. E aprender com seus erros.
No Comments