Há um certo consenso no qual o passado foi um lugar mais tranquilo para empreender. Talvez porque com o distanciamento do tempo, as coisas tomem aspectos mais coloridos e agradáveis do que realmente eram lá atrás. Se voltássemos para 1990, entre as marcas mais valiosas do ranking Best Global Brand da Interbrand estavam Kellogg’s e Marlboro, nas posições número 2 e 5, respectivamente. Caso você pudesse embarcar em uma máquina do tempo e voltar 30 anos, o que diria a estas marcas? E o que aconselharia para a Kodak, quarta marca mais valiosa do mundo no mesmo ranking?
Agora imagine: o que o seu eu de 2050 diria para você hoje, se ele pudesse entrar na mesma máquina do tempo? Muitos de nós gostaríamos de saber o que vai mudar no mundo no futuro. Não é à toa que livros de aeroporto, youtubers de gestão e palestras-show tratam de vender essa ideia. “O mercado mudou, as pessoas mudaram, o marketing mudou”. A tônica do “esqueça tudo que você sabe”, potencializado após os eventos que se seguiram à pandemia iniciada em 2020. De outro lado, poucos de nós questionam o que não vai mudar no mundo no futuro. Podemos trazer parte desta resposta, sem precisar vir de uma viagem no tempo.
Marcas existem para atrair mais pessoas a fazerem melhores negócios com você
Marcas precisam ser úteis; criar produtos, serviços e ferramentas que realmente resolvam problemas dos clientes. Sua marca deve chamar a atenção para você e criar atalhos que gerem as associações mentais corretas. Afinal, o que você quer que seu público pense a respeito da sua empresa? Ao contrário do que possa afirmar alguma página, vídeo ou podcast, marcas não foram criadas para serem amadas, terem fãs ou propagarem um propósito que salve o planeta. Por outro lado, o potencial de diferenciação e distinção delas podem, além do óbvio aumento de vendas, fazer seu negócio lucrar mais, por permitir definições de preço mais vantajosas. E o preço é por si só a decisão individual mais impactante no lucro de uma companhia, acima de cortar custos ou incrementar o número de vendas.
Muitas empresas são guiadas por apenas melhorar seus produtos e serviços, assim como manter a satisfação de seus clientes. Seriam os supostos antídotos perfeitos para manterem seus espaços no mercado. Um equívoco! Marcas que sucumbiram continuaram fazendo ambos, no entanto viram sua participação erodir diante de novos competidores que resolveram o problema do cliente de maneira mais conveniente. Quando a Ford entrou no mercado, já existiam carros, mas eram caros e inacessíveis. No momento que a General Motors despontou, ela trouxe a variedade de modelos que não havia antes dela. E hoje a Tesla apresenta um modo mais inteligente de resolver o transporte com automóveis.
Distribua a energia certa para transformar seu futuro
Construir e desenvolver sua marca é uma estrada. O ponto de partida (e que precisa de tempos em tempos ser revisitado) passa por entender aonde seu negócio está hoje, ouvir e entender o que acontece no mercado (e fora dele). Apaixone-se pelos problemas que seu produto resolve, não pelo produto que resolve seu problema. A sequência, envolve fazer escolhas, dizer vários nãos para poucos sins. E por fim chega-se na praia da competição, aonde muitos negócios começam pela definição de produto e preço, e, infelizmente, muitos profissionais de marketing atuam fazendo apenas comunicação, com vídeos no Tik Tok ou contratando influenciadores. Escrever seu futuro e o fazê-lo bem envolve equilibrar sua energia e tempo entre os 3 estágios do roteiro acima. Só assim você não ficará refém do curto prazo e terá boas chances de sobreviver ao teste do tempo, ao qual todas as marcas são submetidas inevitavelmente.
Artigo publicado parcial e originalmente na Revista Calçados SA
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