Certa vez questionado sobre sua paixão por champagnes, Napoleão Bonaparte respondeu: “Nas derrotas precisamos, nas vitórias merecemos.” Assim essa bebida esteve sempre circundada de características mágicas, tornando-se referência de classe, prestígio e bom gosto. A França foi seu berço, desde as descobertas de Dom Pérignon que permitiram fazer a segunda fermentação dentro da garrafa (método champenoise), sem que houvesse grandes perdas. A partir da metade do século XX, a região da serra gaúcha começou a produzir espumantes, inicialmente sem grandes pretensões ou requintes de qualidade. A partir do investimento do grupo Möet Chandon nos anos 70 na aquisição de terras e na montagem de uma unidade brasileira, começava a ficar claro que havia uma vocação regional para a produção dessa bebida, devido a características de solo e clima que propiciavam uvas muito adequadas a este fim.
O produto e as marcas nacionais da indústria vinícola sempre foram vistas com desconfiança. Vindas de uma etapa inicial na qual a quantidade sobrepunha a qualidade, os rótulos brasileiros perdiam em muito não apenas para o Velho Mundo, mas para os vizinhos chilenos e argentinos. No entanto, a especialização de algumas empresas e o aprimoramento das técnicas produtivas trouxe à tona a verdadeira vocação da região: o espumante. Hoje ele é responsável por prêmios em importantes concursos internacionais, bem como tem alto grau de reconhecimento nos mercados mais exigentes. Hoje é possível afirmar que o espumante brasileiro é o melhor das Américas e um dos melhores do mundo. Enquanto isso, nosso vinho, apesar de toda evolução, ainda está muito distante dos líderes em qualidade e reconhecimento de mercado.
Durante os planejamentos estratégicos, muitas empresas perdem-se no emaranhado de dados dos quais deve extrair suas decisões. Na Matriz SWOT surgem forças e fraquezas e tenta-se equilibrar tudo ao mesmo tempo. A partir de deficiências constatadas, desesperadamente busca-se competências para suprir, em uma tentativa de transformar pontos fracos em fortes. Quando essa tentativa é colocada em prática, uma imensa soma de energia, tempo e recursos serão consumidos, sendo que existe uma chance razoável de falhar. Enquanto isso, aquilo em que somos bons e melhores que os outros, pode ficar esquecido ou subaproveitado, sem virar de fato uma vantagem estratégica.
Voltando aos espumantes, as escolhas certas fizeram com que o mercado interno saltasse de menos de 4 milhões litros em 2000 para uma estimativa de 13 milhões de litros em 2010 (Ibravin). Somente a Casa Chandon, posicionada no segmento intermediário-superior de mercado, irá comercializar mais de 2,4 milhões de garrafas de espumante esse ano no Brasil. Não apenas volume, mas reconhecimento de valor. A Cave Geisse, especializada no segmento superior de mercado, colocou no mercado uma vintage de 1998 ao preço de R$ 400, comparável as melhores champagnes do mundo.
Vários fatores explicam esse fantástico incremento, entre eles a valorização por parte dos consumidores dos momentos de prazer, desvinculando a bebida apenas de festas e celebrações, o que antes restringia mercado. Mas sobretudo, a percepção entre os produtores de que a verdadeira vocação, influenciada pelos fatores climáticos, meteorológicos e das características das uvas, tornavam a região extremamente adequada para a fabricação de espumantes, bastando investimentos e tecnologia para aprimorar qualidades que já estavam ali presentes. O próximo passo é aprofundar essa escolha, abandonando projetos que possam tomar tempo e energia sem a mesma vocação para o sucesso. E criar prestígio para equiparar o percepção de marcas às melhores experiências internacionais, além de eliminar finalmente resquícios que ainda existem da época em que qualidade e produto nacional andavam separados.
Analise seu negócio e descubra a sua vocação. E lembre-se que toda escolha envolve renúncia. Não tenha medo de deixar algo para trás. Bons negócios!
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