No mar das opções de consumo, cada escolha representa renúncias. E para aqueles que são desconfiados com sua capacidade de definir, sempre parece que o melhor ficou na mesa ao lado. Janet Landman escreveu em Regret que quanto mais alternativas atraentes temos, maior a chance de arrependimento. E mesmo que tenhamos feito a escolha para maximizar a satisfação, o processo de adaptação irá se encarregar de rapidamente apagar o brilho da escolha. Aquele carro que nos primeiros dias parecia a experiência mais excitante de direção, logo se torna algo comum e corriqueiro assim como aquele sapato reluzente comprado como joia, agora atirado em algum canto do seu closet.
Há exatos 4 anos escrevi o parágrafo acima em um post intitulado SER FEIO ANTES ERA SINAL DE AZAR, AGORA PROVA QUE VOCÊ É UM PERDEDOR!. Na época a dúvida sobre a posse de coisas versus o consumir experiências causava dúvidas e certezas. Acerca de 6 meses atrás, uma divisão da revista FastCompany divulgou um estudo além do interessante, justamente tentando explicar de forma científica o fenômeno retratado naquele texto que publiquei em 2011. O caminho natural da lógica humana pela busca da felicidade aponta que se trocarmos dinheiro por coisas teremos mais sucesso em sermos felizes por mais tempo, afinal coisas duram enquanto experiências acabam.
Por esta razão, um monte de gente que conhecemos economiza sua grana, não viajando, não indo a shows, muito menos frequentando museus, parques ou exposições. Prefere gastar em coisas para a casa, desde o último modelo de televisor até um sistema de automação do lar, carros do ano ou imóveis que pouco usarão. Garantia de felicidade? Não. O Dr. Thomas Gilovich pesquisando o assunto reencontrou aquele grande inimigo: Adaptação. “Compramos coisas para ficarmos felizes, e isso funciona. Mas só por um tempo. As coisas novas são excitantes no início, mas então nos adaptamos a elas.” Sim, nesta hora os brinquedos novos de Natal vão para a caixa das coisas esquecidas.
No início, Experiências e Coisas podem até ter valores percebidos semelhantes, mas o fator tempo muda o jogo em favor da primeira. Alguns motivos para isso acontecer:
1. As coisas permanecem ao nosso lado (e isso é ruim), achamos normal e não valorizamos mais;
2. As coisas por mais que sejam nossas, estão separadas de nós, já as experiências são parte de nós próprios, somos a soma delas;
3. Experiências conectam nós aos outros, você se identifica com quem também subiu a Machu Picchu mais do que com quem tem a mesma máquina de lavar que você;
4. Coisas podem ser diretamente comparadas, se não temos o último modelo ou o apartamento de cobertura alguém tem, por outro lado experiências são mais subjetivas e menos comparáveis de forma depreciativa.
Em um dos aposentos do Palácio Real de Madrid, ao lado do estado da arte da arquitetura e mobiliário de época, uma turista comenta que se frustrava por não poder tirar fotos, pois as mesmas eram proibidas naqueles recintos. O homem que a acompanhava, responde prontamente, apontado para sua cabeça e refletindo: “mas está tudo registrado aqui dentro”. Experiências existem e, salvo doenças e acidentes, se mantém ao nosso lado para sempre. Mudam nossa existência. Em resumo, coisas (fotos e selfies) valem menos que experiências (conhecimento e vivência). Pouco lembro do primeiro celular ou do computador que mudaria minha vida. Mas até hoje escuto o jazz que saiu das ruas de New Orleans, sinto os aromas do Mercado del Puerto, o azul do mar de Big Sur, o pôr do sol de Key West ou os artistas de rua em Camdem. Quando for investir em busca da felicidade, pense bem aonde colocar seu dinheiro. As coisas vão para o lixo, as experiências para nossa eternidade.
No Comments